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segunda-feira, 19 de abril de 2010

O samba é a bola da vez

Recentemente o samba mais antigo passou a ocupar um maior espaço na grande mídia, e da mesma forma houve um aumento do número de pessoas que passaram a frequentar as rodas de samba mais tradicionais.

É importante refletir sobre este fato, já que o samba sempre pertenceu a cultura popular e hoje vem frequentando lugares em que até pouco tempo ele era hostilizado.

Um elemento importante para esse “boom” do samba tradicional é a força dos projetos de samba, como é o caso do Nosso Samba de Osasco, Cupinzeiro de Campinas, Samba da Vela, entre outros. Esses projetos são fundamentais para a sustentação do ritmo, já que de fato fazem um resgate e dão continuidade a ele.

Os projetos cumprem o papel que em outros tempos era desempenhado pelas Escolas de Samba, nas quais grandes sambistas e grandes sambas tiveram origem. Havia espaço nas Escolas, através das Alas de Compositores, para novas composições, seja o samba de quadra, de terreiro e também o de enredo. Inclusive, nas décadas passadas, os sambas enredo possuíam uma qualidade superior a que tem hoje. Entendemos, que essa perda de qualidade está ligada ao processo de “aceleramento” pelo qual passou a pulsação do samba. Às custas de sua harmonia, seus intérpretes, suas baterias e seus batuqueiros, as Escolas passam cada vez mais rápido pela avenida para poder mostrar mais celebridades e insinuando a mercantilização da maior festa popular do Brasil.

De uma forma ou de outra, a força dos projetos respinga no grande público e até mesmo na mídia burguesa, que de nenhuma forma pretende resgatar esse importante elemento da cultura popular, mas sim aumentar seu ibope e enriquecer às custas dos sambistas.

Mas se por um lado temos a presença dos projetos como um alicerce para a preservação do samba tradicional, por outro lado vemos a classe média e a pequena burguesia “abraçando” essa bandeira.

Exemplos para isso temos vários. Aqui poderíamos citar a proliferação do samba em bairros de alto poder aquisitivo, como a Vila Madalena em São Paulo, onde 90% dos bares reservam algumas de suas noites ao samba. Outro fato que vale como exemplo, foi o último CD de Marisa Monte, todo dedicado ao samba, ou mesmo o novo CD da cantora Maria Rita, todo ele dedicado ao samba, e também a parceria de Arnaldo Antunes e Paulinho da Viola.

E tudo isso vem acontecendo por um motivo específico. A classe média e a pequena burguesia não possuem um projeto de sociedade, como o tem a burguesia e os trabalhadores. Logo não possuem uma cultura própria, e por isso hora se apropriam da cultura da classe trabalhadora, hora da cultura burguesa...e a “bola da vez” é o samba.

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