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sexta-feira, 18 de junho de 2010

Why, I’m fire

E, vejam só, ainda não falei de música.

Por certo, é melhor assim. Falar muito estraga. Longe de mim estragar o que nos resta. O breve a seguir estará beirando o insuportável (espero não ultrapassar o tênue limite da inconveniência).

A música: Joan of Arc

O autor: Leonard Cohen.

O disco: Songs of Love and Hate

A música retrata o famoso episódio da morte de Joan d’Arc, uma das maiores heroínas francesas. Todos conhecem o ocorrido. Joan d’Arc liderou o primeiro exército nacionalista francês na Guerra dos Cem Anos, obteve poucas, mas relevantes, vitórias e contribuiu de forma decisiva para a idéia formada de pátria francesa. Mais tarde, capturada pelo inimigo, julgada como herege, queimada na fogueira. Morte de mártir.

Leonard Cohen transformou tal personagem enigmática em música, incluída num disco que percorre as duas extremidades dos sentimentos humanos: amor e ódio. A canção – não é necessário constatar em qual dos lados se encaixa – evidencia o momento do sacrifício a partir de uma narrativa surpreendente (pois gênio é quem me surpreende). A jovem Joan d’Arc, apenas dezenove anos, cansada de batalhas, despe-se de sua armadura, veste um vestido branco e torna-se noiva. O fogo, o noivo, agente do sacrilégio, esfria suas chamas, abandona o sacrifício e inicia o casamento.

Aos convidados, a lembrança da noiva Joan d’Arc permaneceu. Seus gemidos de dor ainda ecoam, as feições sofríveis martelam, oponham-se ao olhar firme de glória e às cinzas de seu vestido. Um dos presentes evoca seu delírio: “Eu anseio por amor e luz, mas, meu D´us, por que tão cruel, por que tanto brilho?”.

Quanto a nós, bem, a nós a música.



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